Guitarras e Mapas: Técnica ou a Arte da construção do Novo?

PorAbimael Cereda Junior

Guitarras e Mapas: Técnica ou a Arte da construção do Novo?

CEREDA JUNIOR, A. Guitarras e Mapas: Técnica ou a Arte da construção do Novo? São Carlos: Geografia das Coisas, 2015. Disponível em: <https://geografiadascoisas.com.br/artigos/guitarras-e-mapas-tecnica-ou-a-arte-da-construcao-do-novo/>

Não importa seu estilo musical, o que você gosta de ouvir, consumir ou apreciar. Com certeza você já prestou atenção em um guitarrista, como por exemplo, de blues. Poderíamos ficar horas discutindo – e alguns até brigando – para chegar a nenhum consenso sobre qual seria o melhor do mundo.

Mas, neste momento, peço que pense naqueles guitarristas que, ao tocarem, estão mais que transferindo energia para seus dedos e palheta; artistas – na concepção etimológica correta – que ao criarem uma música ou interpretarem a canção vão além da execução de notas dispostas em uma partitura ou tablatura; pessoas que utilizam o combo ‘instrumento’, ‘cabos’ e ‘amplificador’ não como simples equipamentos, mas como extensão do seu corpo para realizar algo que organicamente não se tem. Chamamos isto de técnica.

A tal técnica

B.B. King não nasceu com cordas em seus braços ou um amplificador em seu corpo, mas transformou madeira, metais e componentes eletroeletrônicos em extensão física, para além de sua mente e alma: e a chama de Lucille. Coloca em cada nota (e, como ele diz, fazer esta valer por mil) e bend não só a urgência desta no lugar certo, no momento correto; sente, analisa e o interpreta e, neste momento, utiliza a caixa de ferramentas disponível em seu cérebro.

E você? Neste momento, pode entrar em um site, comprar uma guitarra, pedais, amplicador, guias de aprendizado, um ‘jogo’ interativo para o videogame, acessar vídeos na Internet ou mesmo comprar revistinhas na banca de jornal (ainda existem?) e sair tocando sua música ou riff preferidos em pouco tempo; aprenderá técnicas, acordes, dinâmica e tempo. Mas quando e como você atingirá o nível de interpretação daquele primo que chega na sua casa no final de semana, começa a brincar com os sons e de repente está criando um blues em escala diatônica menor: e foi você que avisou a ele que este era o nome.

A música DA Geografia

Quando criamos Mapas, seja para o cálculo do melhor caminho para a loja mais próxima, auxílio aos gestores públicos na definição da aplicação de recursos na cidade ou para a denúncia da população sobre um problema em seu bairro por meio do smartphone, estamos utilizando técnicas de Análise Espacial (e/ou Geográfica – mas esta discussão fica para um novo texto), e o mesmo fenômeno dos guitarristas ocorre.

Você pode adquirir o melhor hardware disponível no mercado (e hoje falamos de uma ampla gama de dispositivos, desktops, notebooks, smartwatchs); pode adotar mais que um software, mas uma Plataforma Tecnológica que permite a utilização de técnicas e métodos (‘caixa de ferramentas’) para coletar, armazenar, modelar, analisar e compartilhar seu problema de negócio – desde a localização dos seus clientes, cálculos de risco ambiental, proposição da criação de uma nova escola; contudo, a componente principal continua– e assim continuará – sendo o músico: aliás, neste caso: o ‘usuário’.

Pensar que Sistemas de Informações Geográficas (SIG/GIS) criam mapinhas, bastando apertar botões é desconhecer a Ciência Geográfica que muitos, que isto afirmam, dizem defender.

Usuário, consumidor ou cidadão?

E que tal pensarmos em abolir o termo ‘usuário’ e pensarmos em ‘cidadão’. Afinal, mapas pressupõe a representação – mesmo que ilustrativa em algumas situações – do Território, vivendo o Lugar.

A sociedade contemporânea tem urgência por respostas territoriais “no local certo, no momento certo”. A utilização da Inteligência Geográfica – integração da Geografia e Tecnologia – pode trazer estas respostas, assim como um guitarrista constrói a melodia pela continuidade de suas notas e, desta construção, a transformação. E, um mapa, vale mais que mil imagens e tabelas.

Utilizamos ferramentas tecnológicas aplicadas à Ciência Geográfica desde seu início. Antes a extensão que precisávamos eram bússolas (e alguns pássaros já nascem com ela), barbantes, criação de projeções para planificação, nanquim e tantos outros instrumentos. Hoje, podemos empoderar toda a sociedade como construtora do seu Espaço.

Somente técnica?

E então? Tocar é somente técnico? Não. Analisar o Espaço Geográfico utilizando extensões tecnológicas? Muito menos. B.B. King ao interpretar o que talvez seja uma de suas músicas mais conhecidas – Thrill Is Gone – desvela uma nova história a cada show. Que possamos revelar e construir um novo mundo, em plena transformação, que vive em uma relação dicotômica de estabilidade dinâmica. Construamos o Novo!

P.S. Texto escrito em meados de março/abril de 2015, e agora uma homenagem ao legado de B.B.King, falecido na data de 15/05. R.I.P. Riley B. King

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